2.03.2010

Teatro Ama a dor?

"Dado o malogro do teatro não ter raízes estéticas e a perdurarem as atuais causas economicas, restar-me-à tão-somente o retorno ao amadorismo e aos teatros-íntimos, como às siderurgias restará voltar às forjas domésticas, os carros aos coches e o poder a Pombal"
Boal, Augusto
Teatro do Oprimido e outras poéticas políticas
pág 242

Muito pelo contrário do que pode vir a ter parecido qualquer tipo de interpretação das palavras de Boal, o amadorismo do autor se dirige pejorativamente aos que praticam teatro com pouco conhecimento de causa. Não se trata de um anacronismo - não, mesmo que a palavra 'coche' se encontre por ali - uma vez que da data de publicação da obra a cena teatral estava cercada de grupos de teatro amador com estéticas revolucionárias e politizadas.
Temos, à época da contracultura, a fundação do grupo de teatro amador Oficina, liderado por José Celso Martinez Corrêa (nome que soa familiar?), e uma porção de inomináveis grupos afogueados pela bandeira sociopolítica da reforma de valores.

O Amadorismo nada tem a ver com a dor. Grupos apaixonados pela idéia de se expressar através do teatro surgem cada vez mais;
" Em nenhum outro lugar encontrei um número tão grande de movimentos de amadores como aqui [São Paulo].", declarou o professor Oscar Fernandez, da Universidade de Iowa (EUA) e um dos maiores especialistas mundiais em teatro amador, e a tendência, felizmente, é desse número continuar aumentando.
Com o apoio do poder público - ainda que não seja de todo sufi(efi)ciente - anônimos que desejam entrar no mundo das artes cênicas são amparados por programas culturais como as Oficinas ASSAOC, espalhadas por todo o Estado, o núcleo Vocacional de Teatro, Dança e Música, e cursos e workshops gratuitos ministrados por grupos privados com o apoio das leis de fomento.
E apesar de ser cada vez mais fácil encher a boca com "eu faço teatro", se profissionalizar na área são outros quinhentos. Claro que nem todos tem pretensão de sobreviver de arte (em outras palavras, comer sua arte até conseguir bons cachês), mas os que assim desejam ainda enfrentam caminhos cavernosos até conseguir o carimbinho na carteira de trabalho. E digo, obviamente, daqueles que não intentam pagar pelo carimbo.
O Teatro Amador tem, ou deveria ter, portanto, tanto reconhecimento profissional quanto o profissional (hehe). A batalha da maioria dos grupos começa de forma amadora e grande parte morre ainda na amadorismo. Mas isso, meu senhor, não é o mesmo que devolver o poder ao Pombal! É colocá-lo, mais do que nunca, nas mãos do povo sem número de registro.

Conheça a história do Teatro Amador clicando aqui.

3 comentários:

  1. O Teatro Amador é o que mais consegue se aproximar do povo e da realidade dele, principalmente com Boal. É o de raiz, do povo, aquele que não tem nenhum global e seu valor é maior que qualquer preço.

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  2. o "amadorismo", como eh tratado no texto, eh simplesmente a forma mais natural do teatro e, considerando o teatro como forma de expressão, esse amadorismo eh a forma mais livre desta forma de expressao, forma esta q naum eh controlada por patrocinios e coisas do tipo...
    considero entaum o melhor tipo de teatro...akele q eh real, cuja expressão realmente expressa as ideias dos que estaum envolvidos com ele...

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  3. Além de tudo que os colegas falaram, temos sempre que lembrar que o movimento amador possui uma enorme responsabilidade para com a cultura e a sociedade. Infelizmente, nem todos os grupos têm consciência disso. Com o "boom" do teatro comercial no final da década de 80, nós, os amadores, fomos jogados para a periferia (em todos os sentidos, não só o geográfico) e taxados de "medíocres" e "inexperientes". Infelizmente, os grupos que não assumem a responsabilidade do teatro amador só ajudam a proliferar esse pensamento elitista e preconceituoso. É importante, então, que nos levantemos uma vez mais e mostremos a importância do teatro amador!

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